Estive várias vezes na casa de Gilvan Samico em Olinda. Na primeira vez, no início dos anos 1990, ele ficou surpreso como uma moça, de São Paulo, podia saber da existência dele. Modéstia pura, ele já era reconhecido como um dos maiores gravadores brasileiros.
Outra vez, quando já tinha aberto a Galeria Pontes e disse que queria vender gravuras dele na galeria, ele retrucou: “mas você sabe que não sou um artista popular”. Respondi que sim, mas que o trabalho dele dialogava com arte popular, por isso queria colocá-las junto. Ele concordou.
Nesta foto estou com Samico e com Célida, sua mulher, foi a última vez que o vi.
Escolhi várias gravuras e fiquei entusiasmada com uma em especial. Ela então interpretou o significado do que estava ali retratado, do ponto de vista dela. De forma resumida ela disse que o herói, precisou subir ao céu através do raio para vencer o dragão. Intrigado com a explicação, Samico perguntou, “mas Célida, por que você não me disse isso antes?“. No que Célida respondeu, “como eu poderia, se só pensei isso depois que você fez?“.
Na breve conversa que tivemos deu para sentir como era próxima e calorosa a relação dos dois.
Samico partiu em 25 de novembro de 2013. Deixa saudades e uma obra monumental.
Edna Matosinho de Pontes